Não é uma evolução natural do sistema de controle. É o uso político errado da tecnologia. Uma violação dos princípios da sociedade aberta. Tal fervor pelo assédio on-line da vida das empresas é um poder político destinado a decodificar a alma da inovação e criatividade e aprisionar seus agentes, empresários e trabalhadores, no site da escrituração digital para fazê-los estéreis e homogêneos.
O sonho do Estado de reduzir a vida econômica das pessoas e empresas a eventos, arquivos e cadastros é o sonho de um Estado totalitário, que não deixa a sociedade enriquecer, prisioneira de tudo predeterminado.
Quem fiscaliza o fiscalizador? Ele próprio? “Nenhuma taxação, sem representação”. Está de pé a velha luta pela liberdade da sociedade vigiar o Estado.
O apelido eSocial é zombaria. Seu alvo é o controle das regras de compliance das empresas. Vírus estatal que impõe e digitaliza a burocracia pública, dando a ela ares de modernidade. Não contém qualquer simplificação. Eu, robô: só há vida no Estado!
O eSocial empresarial é uma qualificação cadastral de natureza incompatível com a sociedade democrática, a liberdade de iniciativa e gestão econômica moderna. Enterra o horizonte da livre negociação, conciliação, mediação e arbitragem, única forma de gerar ambiente favorável à prosperidade de empresários e trabalhadores que tanta falta faz ao Brasil.
*Paulo Gabriel Godinho Delgado é um professor, sociólogo e político brasileiro. Elegeu-se a primeira vez para fazer parte da Assembleia Nacional Constituinte de 1987 que escreveu a atual Constituição brasileira.
É fundador do Partido dos Trabalhadores ao lado de Florestan Fernandes, Mário Pedrosa, Antonio Candido, Sérgio Buarque de Hollanda, Paulo Freire, entre outros.
Fonte http://oglobo.globo.com/opiniao/eu-robo-19815806#ixzz4G69sisTd