O novo sistema exige o cadastro do empregador no site eSocial, que deveria ser feito até o dia 31 de outubro. E a data máxima para o primeiro pagamento do Simples Doméstico é 6 de novembro. A promessa do governo era de que tudo seria fácil e simples, mas os empregadores encontraram um sistema para lá de complicado e ineficiente.
Logo de cara, o usuário se depara com perguntas absolutamente desnecessárias. Para registrar o trabalhador, além de dados como carteira de trabalho e número do CPF, o sistema pede que o empregador indique o grau de escolaridade do empregado e sua “raça/cor da pele”. Verdadeiro despautério. O que a cor da pele tem a ver com o registro de um funcionário perante o Ministério do Trabalho? Se o empregado é branco, pardo ou negro, que diferença faz? Mas não, prevalece a antiga prática de complicar sempre, de pedir mais informações do que o estritamente necessário. Num serviço em que já existem muitos preconceitos – uns explícitos, outros velados – esse é o tipo de pergunta que apenas agrava a situação.
Mas não basta responder a todas as perguntas para o sistema funcionar. Inúmeros usuários relataram contínuos e inexplicáveis travamentos na hora de realizar o cadastro no portal do governo. Ao Estado, o engenheiro civil Valdemar Salamondac relatou sua experiência com o cadastro: “Uma senha foi criada no cadastro, mas na hora de gerar o boleto essa mesma senha não funciona. O site não reconhece. Em apenas uma das tentativas consegui avançar com a senha do cadastro, mas em seguida o serviço travou. É impossível”.
Além disso, imprimir o boleto – afinal é disso que precisa o empregador – mostrou-se ser uma tarefa quase impossível. O Fisco reconheceu que, de 1,2 milhão de empregadores cadastrados no sistema, apenas 50 mil conseguiram emitir o boleto de pagamento. Não obstante, o site eSocial informa que “o sistema de cadastramento está funcionando normalmente”. É uma normalidade que preocupa.
Após milhares de reclamações, a Receita estendeu até o fim desta semana o prazo para o cadastro no portal eSocial. A medida não exclui a evidência de que um sistema “moderno” – no qual se deveria encontrar um procedimento simples, rápido, sem fila – é compatível com uma arcaica, ineficiente e enervante burocracia.
Fonte: O Estadão