Então, o conceito já explica muito da importância do planejamento estratégico. No entanto, quero ressaltar quatro aspectos sobre a relevância estratégica para as organizações, que são comentados por Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel no livro Safári de Estratégia - Um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Com base neles, podemos destacar que a estratégia:
- Indica o melhor caminho para que a organização aproveite as oportunidades e se afaste dos perigos do ambiente;
- Canaliza os esforços e impede o gasto de energia em direções contrárias às que interessam à organização;
- Dá unidade à organização e permite que as pessoas assimilem melhor seus valores, sua forma de atuar e sua razão de existir;
- Diminui a margem de dúvidas e ordena as ações da organização.
As bases de uma boa estratégia
Ao criar sua estratégia e organizá-la em um plano, é preciso estar atento aos componentes que vão torná-la efetiva. Richard Rumelt, doutor em administração por Harvard, elege quatro critérios básicos aos quais seu planejamento precisa atender: consistência, consonância, vantagem competitiva e viabilidade.
A consistência assegura que não haverá conflitos de objetivos. Ela garante que você não vai estar fazendo força para um lado enquanto, na verdade, quer chegar no outro.
O segundo critério é consonância, que se refere à relação com o ambiente externo. Uma empresa não pode ignorar que faz parte de um contexto sobre o qual o ambiente externo exerce uma forte e inevitável influência. Os objetivos estratégicos têm que estar consoantes com esse ambiente, sob pena de haver surpresas desagradáveis ou oportunidades perdidas no caminho.
O terceiro critério é vantagem competitiva, atributo que lhe permite superar seus concorrentes em agilidade, satisfação do cliente, preço, qualidade e outros quesitos. Seu plano cria vantagens competitivas ou, pelo menos, mantém as existentes?
O quarto e último da lista de Rumelt é viabilidade. Para ele, é essencial conseguir realizar com seus recursos a estratégia criada por você. Um exemplo extremo para ilustrar: definir ações de marketing com participação em eventos no mundo todo, enquanto seu orçamento mal permite ir uma vez por ano a outro país de seu continente.
Uma estratégia robusta considera outros critérios além destes, como completude e concisão. Com a completude, os objetivos estratégicos devem cobrir todas as áreas da empresa. A concisão mantém seu plano longe de um número exagerado de objetivos.
Enquanto os quatro critérios da lista de Rumelt podem ser considerados essenciais para quem está montando um planejamento, sobretudo se for a primeira vez que o faz, os dois critérios que acrescentamos fazem com que o empreendedor crie um planejamento completo, mas conciso. Condição que evita que seja traçado um grande volume de objetivos que não serão realizados e trarão mais transtornos do que benesses.
Como construir e implementar o planejamento estratégico
A literatura e outras fontes disponíveis na internet mostram que há muitas maneiras de guiar a elaboração de um planejamento estratégico. No caso da Triaxis Capital, o desenvolvimento da quantidade de planejamentos conduzidos ou apoiados por nós só é possível porque contamos com experiência na área e com nossa própria metodologia.
Utilizamos nosso conhecimento para ajudar no planejamento das empresas do Fundo Criatec, junto ao qual atuamos há 10 anos e apoiamos 18 empresas. Ao lado da Bozano Investimentos, montamos a metodologia de planejamento que utilizamos no Criatec 2; são 30 empresas atendidas. Por fim, fazemos uso da nossa própria metodologia nos planejamentos estratégicos da nossa área de Advisory, onde temos atualmente cerca de 10 clientes. Daí vem o número citado por mim no início do artigo: algo em torno de 60 empresas contarão com nosso apoio este ano para que 2018 traga mais oportunidades de crescimento.
O nosso método de fazer planejamento estratégico é baseado, sobretudo, na Escola do Design, que surgiu em Berkeley e no MIT por volta dos anos 1960 e, depois, recebeu contribuições de Harvard. Philip Selznick, Alfred Chandler e Kenneth Andrews são alguns dos teóricos desta Escola, que continua sendo, até hoje, uma das mais influentes correntes do pensamento estratégico mundial. O gráfico abaixo representa o modelo básico da Escola do Design.
Fonte: Safári de Estratégia, de Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel
Apesar da linha mestra do nosso processo de planejamento ser baseada na Escola do Design, em alguns casos também utilizamos elementos da Escola do Posicionamento, cujo principal expoente é Michael Porter. Também fazemos uso de ferramentas mais recentes, como o Business Model Canvas.
No nosso caso, adaptamos a teoria para a vida prática e montamos um processo com quatro grandes fases: 1) Análise Estratégica; 2) Formulação da Estratégia; 3) Elaboração do Orçamento; e 4) Definição de KPIs. Falaremos mais de cada uma das fases a seguir:
- Fase 1: Análise Estratégica
Nesta fase, fazemos a análise da empresa, do seu mercado, do seu modelo de negócios, do seu ambiente interno e do seu entorno. Buscamos entender como a empresa opera, quais são seus produtos e serviços, quem são seus clientes, seus concorrentes, parceiros, suas forças e fraquezas, bem como as oportunidades e ameaças do ambiente na qual a empresa está inserida.
- Fase 2: Definição da Estratégia
Esta fase é o coração da estratégia. Nela, depois do conhecimento adquirido na fase anterior, fazemos, junto com os empreendedores, a definição e/ou revisão da missão, da visão e dos valores da empresa. Depois, ajudamos os empreendedores a definirem os objetivos estratégicos para o próximo ano. Na sequência, estabelecemos as metas para cada um dos objetivos e desdobramos cada um deles em um plano de ação.
O plano de ação contém a descrição detalhada de todas as atividades necessárias para garantir o atingimento de cada um dos objetivos, o responsável e as datas acordadas para realização por cada uma das atividades, entre outras informações relacionadas. Também nesta etapa, analisamos a estrutura organizacional atual e definimos as alterações necessárias para adequar a estrutura aos objetivos traçados.
- Fase 3: Elaboração do Orçamento
Formuladas as estratégias, detalhado cada um dos objetivos em um plano de ação e definida a estrutura necessária para a execução, chegou a hora de traduzirmos tudo isso em um orçamento detalhado. Então, nesta fase, realizamos a estimativa de todas as receitas, custos e despesas para os próximos 12 meses. Tudo isso converge para um fluxo de caixa estimado para operação.
- Fase 4: Definição de Indicadores de Desempenho
Por fim, ao longo do tempo, precisamos medir a execução do plano de ação definido, para entendermos o quão próximos estamos da realização dos objetivos traçados. Para tanto, fechamos o nosso planejamento com a definição de indicadores de desempenho (os famosos KPIs) estratégicos, financeiros e operacionais. Além disso, estabelecemos as métricas de fluxo de caixa, crescimento e produtividade a serem perseguidas pela empresa.
Registramos todo este processo de planejamento em uma Ferramenta de Planejamento e Acompanhamento desenvolvida por nosso time. Este material é entregue aos empreendedores no final do trabalho e permite que o planejamento, orçamento e indicadores de desempenho definidos sejam acompanhados mês a mês, na fase de execução.
Ande na trilha, não no trilho
Seguir o planejamento é fundamental para ver seus resultados. No entanto, o empreendedor precisa estar pronto para as chamadas estratégias emergentes, mantendo seu plano adaptável. As estratégias emergentes são espontâneas e variam de acordo com o perfil de cada empreendedor. Elas surgem quando mudanças bruscas afetam o ambiente que circunda a empresa e os gestores precisam de alternativas para contornar o problema.
Assim, quando a situação inesperada surge e compromete a estratégia previamente deliberada, os gestores reagem com estratégias emergentes. Em outras palavras, saber a direção correta com ajuda do plano é indispensável, mas a forma como você vai andar pode variar de acordo com os acontecimentos ㅡ e das estratégias emergentes que você cria na hora da dificuldade.
O trabalho está só começando
Muitos empreendedores buscam caminhos mais simples para criar um planejamento estratégico. Não estão errados. Isso pode ser feito, desde que com o mesmo nível de empenho que citamos anteriormente. Um exemplo é o chamado Planejamento de 100 dias, sobre o qual falaremos em breve. Porém, nossa experiência mostra que o retorno é garantido para cada minuto dedicado à construção de um plano completo, para 12 meses.
Foi essa crença que me motivou a escrever este artigo, o primeiro de uma série sobre o assunto. Nas seções acima, vimos como elaboramos e desenvolvemos um bom planejamento estratégico, mas o trabalho não para por aí. Na verdade, para as empresas, o verdadeiro trabalho vem após a elaboração do planejamento, pois tudo que foi planejado precisará ser executado e medido. Então, após o planejamento começa a execução e o monitoramento. Mas isso já é assunto para outro texto...
Você tem mais dúvidas sobre sobre planejamento estratégico? Já passou pela experiência de construir o da sua empresa? Deixe uma mensagem com perguntas ou relato.